OS SINAIS DO REINO – A aparência do Reino
“Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos assaltantes, os quais o roubaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo mesmo caminho, certo sacerdote que, vendo-o, passou distante. De igual modo, um levita, chegou aquele lugar e, vendo-o, passou distante. Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele, viu-o, e moveu-se de compaixão” (Lc 10:30-33)
Um sacerdote e um levita desciam pelo mesmo caminho, ou seja, estavam voltando de Jerusalém para Jericó; avistaram alguém necessitado de cuidados e não o ajudaram, passaram distante. Sacerdotes e levitas eram a representação da religião em Jerusalém. Apresentavam as ofertas a Deus; porém, não foram capazes de chegar perto, de se envolver, com aquele que havia caído nas mãos de assaltantes e agressores, quase ao ponto de morrer.
Um samaritano que ia de viagem, entretanto, chegou perto daquele homem. Fez o que a religião não pôde fazer: aproximou-se; atou suas feridas; colocou vinho e azeite; colocou-o sobre a sua cavalgadura; levou-o a uma hospedaria e cuidou dele naquele dia; proveu o sustento para que o hospedeiro pudesse continuar o tratamento nos dias seguintes; e, finalmente, garantiu que na sua volta, o que fosse gasto, além do que havia deixado, seria recompensado.
Os judeus não se dão bem com os samaritanos e isso tem uma razão histórica. Para se entender a profundidade disso precisamos voltar ao tempo da monarquia de Israel. Depois de Salomão, o último rei de Israel sobre as doze tribos; Roboão, seu filho, recebeu um pedido do povo de Israel para que diminuísse os impostos; foi buscar conselhos com os anciãos, que o incentivaram a atender o pedido, e também, com os jovens, que, ao contrário, o incentivaram a apertar ainda mais a carga sobre o povo. Roboão, decidiu atender o conselho dos jovens e não diminuiu a carga sobre o povo, o que causou a divisão das tribos de Israel: dez tribos, sob a liderança de Jeroboão se separaram, formando o Reino do Norte, ou simplesmente Israel; duas tribos, Judá e Benjamim, ficaram com Roboão, formando o Reino do Sul, ou Judá, daí o nome “judeus”. A capital do reino do Norte era Samaria, origem do nome “samaritanos”, e a capital do reino do Sul, Jerusalém. O reino do Norte estabeleceu, no monte Gerizim, um local de adoração, que para os judeus, não contava com a aprovação de Deus. De fato, a adoração do reino do Norte nunca foi aprovada por Deus; nenhum rei de Israel, ou seja, do reino do Norte, agradou ao Senhor. Cerca de 720 anos antes de Cristo, depois de muito Israel desagradar o Senhor, Deus permitiu que a Assíria os capturasse, deportasse o seu povo, trouxesse para a terra, habitantes de outros lugares. Igualmente, Judá, mesmo com o exemplo de Israel, não aprendeu a lição; desagradou ao Senhor, teve sua capital, Jerusalém e seu templo destruídos, e foi levado cativo, para Babilônia em 586 antes de Cristo, portanto, pouco mais de 100 anos depois de Israel ter sido capturado. Todavia, há uma diferença entre os dois cativeiros: enquanto os samaritanos não se mantiveram “puros”, ou seja, se casaram com outros povos; os judeus, no cativeiro e em Jerusalém, mantiveram suas origens. Mais tarde, na ocasião da reconstrução do tempo, em Jerusalém, após a libertação do cativeiro babilônico, os judeus proibiram os samaritanos de ajudar na construção, por não considerarem os samaritanos como povo da Aliança, acirrando assim a inimizade histórica.
Pode-se então imaginar o que significava aquela história de Jesus contada a um mestre da lei judaica que envolvia sacerdote, levita e um “bom samaritano”. O reino de Deus não vem com aparência externa e tende a chocar profundamente aqueles que estão arraigados na religiosidade.
Nessa parábola, cada personagem representa, obviamente, alguém na realidade. Sabemos que Jesus se fez pecador, impuro, para salvar o perdido. Isaías fala que olhando para Ele, nenhuma beleza víamos para que o desejássemos. Era um homem aparentemente normal, definitivamente não se encaixava com a religiosidade pomposa da época.
O assaltado, ferido e quase morto, é aquele que foi machucado e destruído pelo diabo; são os perdidos, os abatidos, os angustiados, os necessitados. O sacerdote e o levita são a representação da religião, que fazia o mesmo caminho do necessitado, ou seja, voltava de Jerusalém, do templo. A religiosidade “cultua” e “serve” em Jerusalém, no templo, mas a vida prática, na rua, é nula; não sabe a religião, que o nosso culto verdadeiro não é no templo, mas no dia a dia; definitivamente, um culto assim, nunca irá atender às necessidades do perdido; o bom samaritano é Jesus, que, sem a aparência da religiosidade, na verdade, tido como inimigo dos judeus, não cultua nos templos, mas serve nas ruas. Jamais Jesus passará de largo diante de uma necessidade. É Ele quem chega perto; quem ata as feridas; é Ele quem nos deu o vinho, quem derramou seu sangue para a nossa salvação e o azeite, o seu Espírito Santo para nos capacitar; quem nos leva sobre Ele mesmo e cuida de nós; quem provê o sustento de dois denários, ou seja, dois dias de trabalho (Mt 20:2) e afirma que quando voltar, recompensará o hospedeiro, aquele sob o qual cuidado Ele deixou o necessitado; este, deve continuar a sua obra. A igreja é a hospedagem, os servos, ministros, são os hospedeiros que devem continuar a fazer o trabalho que Jesus começou. Dois dias já se passaram, ou seja, 2.000 anos, porque para Deus, “um dia é como mil anos” (II Pe 3:8), Não tenho dúvida que Ele está voltando. Que gastemos os denários naquilo para o qual realmente eles foram destinados, não em benefício próprio. Se gastarmos mais que isso, o que é muito improvável, Ele garante a recompensa! “Vinde, tornemos ao Senhor, pois Ele nos despedaçou e nos sarará. Depois de dois dias nos dará vida, e ao terceiro dia nos ressuscitará e viveremos diante dele. Como a alva, é certa a sua vinda” (Os 6:1-3). Deus nos abençoe.
Pr Marcos Reis